Tuesday, April 01, 2008

Réquiem ao pôr-do-sol



Dormiste sob a luz da lua cheia, em paz, serena e sem preocupação com teus caminhos. Viveste durante décadas sem pensar no futuro, que chegava cada vez mais rápido e trazia consigo questões ainda maiores. Hoje, a teus pés, milhões de pessoas. Eu sou apenas mais um que navega em ti, quando mais pareço rastejar por entre tuas veias.

Acordaste em perigo, sob um sol de derreter qualquer amor. Em pouco mais de um século, viveste de tudo, mas não tuas dores. Colhes agora uma de suas piores frutas, daquelas que nem mesmo Adão e Eva ousariam provar.

Teus sonhos viraram tormenta. As belas montanhas, que de tão belas foram remédio para muitos pulmões cansados, deixaste morrer. Teus caminhos não levam mais a Roma, pois não há mais como sair. Por onde andam tuas belas moças, teus homens elegantes e os enamorados?

Fizeste de tuas verdades calúnias. Por mais que me surpreendas, escuto calado os gritos ébrios daqueles que se recusam a ir contra ti. Pobre senhora. De tanto se projetar em busca de mais amores radicais, renunciaste o zelo de tua segurança. Zelo este que tuas crianças hoje pedem, famintas por esperança.

Queria ver-te sangrar, pois só assim poderás ser remediada. Porém, me esqueci que em tuas veias não corre mais uma vida normal. Teus corredores são antigos e não suportam mais tantos erros injetados como uma busca frenética por solução. Fizeste quase tudo errado. Lembra-te, meu amor: este quase, pode ser a solução de teus tormentos.

Disseste ser o paraíso, mas hoje alimentas um fogo infernal dentro de mim. Não me orgulhas mais com novas idéias, aliás, só vejo teu desperdício. Jogas fora tudo de bom. Creio que o voto que deposito em ti seja em vão, ao mesmo tempo em que minha confiança virou suspeita.

Submerso em palavras iludentes, só posso salvar a mim mesmo. Tampo meus ouvidos e sigo calado. Vejo em teus horizontes uma nuvem de poeira, cinza e pesada, como o fardo em cada destino daquele que habita em ti.

Sábios aqueles que ousarem mudar teus passos enquanto houver tempo. Olharás para o fim do caminho e tomarás a decisão. És parte de um mundo e sua história. Sem muitos sonhos, me despeço de ti e deixo um tom de réquiem, mesmo que parte desta vida guardo em simples pedaços de papel.